“Resistência” de Rosa Aneiros
um romance que traça a história política e social de Portugal dos anos 1920 à década de 1990
Resistência é, com certeza, um romance de compromisso político continuador do realismo crítico, no qual, a fidelidade à história vai além da plausibilidade das tramas. Em Resistência, a escritora e jornalista galega Rosa Aneiros (Meirás, Valdovinho, 1976), traça a história política e social de Portugal dos anos 1940 à década de 1990 entrelaçada com histórias de amor num relato enfiado na repressão exercida durante as ditaduras de António Salazar e Marcelo Caetano e na atividade da resistência antifascista clandestina.
O relato organiza-se ao longo de trinta e seis capítulos e um epílogo em quase trezentas páginas, das quais muitas descrevem as personagens, os espaços e o contexto político em registo de reportagem jornalística combinando história, dados reais e estilização literária.
Os protagonistas, Dinis e Filipa, apaixonam-se no verão de 1959 na vila piscatória de São Pedro de Moel. A vida nas condições da ditadura salazarista colocará inúmeros obstáculos nos seus caminhos. Enquanto Filipa vive e estuda confortavelmente em Coimbra, Dinis trabalha como operário numa fábrica de vidros, onde entra em contacto com o movimento sindical e inicia a luta revolucionária. O recrutamento de Dinis para o exército irrompe nas suas vidas e na sua transferência para Moçambique vive o terror da guerra colonial. Já de volta a Portugal e à fábrica, prepara uma revolta operária que o levará à prisão de Peniche. Como consequência, Filipa entra em contacto com a oposição estudantil à ditadura, liderando protestos e sendo obrigada a exilar-se no Brasil, perdendo o contacto entre eles, uma vez que a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) apreende as centenas de cartas que Dinis lhe escreve. Após uma longa permanência na prisão de Peniche e do triunfo da Revolução dos Cravos em 1974, Dinis é libertado e regressa à sua vida. Filipa, devido à morte do pai, resolve regressar a Portugal em 1994 e descobre expostas no Museu Resistência e Liberdade de Peniche as missivas que o seu amante lhe escrevera anos atrás. O romance conclui com um final aberto quando Filipa, sabendo que Dinis ainda é vivo e continua apaixonado por ela, vê-se numa encruzilhada que pode levá-la de volta ao Brasil ou a São Pedro de Moel para o reencontro.
Resistencia é um dos romances mais lidos nos liceus galegos e já foi republicado 19 vezes desde seu lançamento em 2002. Em 2003 foi vencedor do Prémio Arcebispo Xoán de San Clemente com um júri constituído por alunado do Instituo de Ensino Secundário Rosalia de Castro de Compostela e de outros quatro liceus da Galiza. Em 2004 foi publicado pela Dom Quixote e em 2010, a galega Kalandraka, publicou a versão em castelhano.
BIBLIOGRAFIA E RECURSOS
Aneiros, R. (2002). Resistencia. Edicións Xerais de Galicia.
Aneiros, R. (2004). Resistência. Dom Quixote.
Aneiros, R. (2010). Resistencia. Kalandraka.
Azeredo, R. (2010, abril 25). Rosa Aneiros – Entrevista a propósito de “Resistência”. Porta-Livros. https://portalivros.wordpress.com/2010/04/25/5455/
Dotras Bravo, A, & Maria João Simões, M. J. (2011). A presença da imagem portuguesa no romance galego actual: Resistencia de Rosa Aneiros. Em M.J. Simões (Ed.) (2011). Imagotipos literários: processos de (des)configuração na imagologia literária (pp. 143-160) Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra.
Ribadulla Costa, D. (2016). O “real/histórico” ao servizo da ficción. Usos da Historia e da realidade en Resistencia, de Rosa Aneiros. Impossibilia, 11, 125-148.
Ribadulla Costa, D. (2016). Do espazo e do tempo históricos en Resistencia de Rosa Aneiros. Em R. Hernández Arias, G. Rivera Rodríguez, S. Cuba López & D. Pérez Álvarez (Eds.). Nuevas perspectivas literarias y culturales (I CIJIELC). MACC-ELICIN.